23 de abril de 2014

Feliz Dia do Livro

Ontem, numa livraria, um senhor de alguma idade e desmazelo, uma espécie de cientista maluco das letras, pedia conselhos sobre a obra mais conhecida de Fernando Pessoa. Passaram-lhe a "Mensagem" para as mãos e ele perguntou se ali se encontrava tudo o que de mais importante o poeta tinha escrito.

Ó lá! Daqui vai sair boa, pensei. Agucei o ouvido e pus-me à espreita.

Depois de folhear algumas páginas, ler meio desconfiado, virar e revirar o livro, o senhor entrega-o à menina, agradece e despede-se em jeito de lamento:

- Uma pobreza de espírito, este Pessoa. Estrofes irregulares, desritmadas, sem respeito pelas regras... Ai, que miséria! Os alentejanos é que valem a pena ler. A Florbela e esses. Agora o Pessoa... É que não há quem o entenda.

O empregado teve alguma dificuldade em conter o riso enquanto fazia a minha conta. E eu pus-me a pensar em todos os heterónimos de Pessoa. Se calhar, coitado, nem ele próprio se entendia, por isso é que teve de se recriar tantas vezes.

De qualquer maneira, sendo hoje o Dia Mundial do Livro, acho que deviam ir ler qualquer coisa. Não necessariamente Pessoa. Mas também pode ser.

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